Por: Mateus Silva Saraiva
25 de Julho de 2012
Já estou muito fraco, cansado e faminto. Venho escrevendo neste meu diário desde que o recebi da empresa no dia de minha contratação. Uma grande empresa de exploração minério, multinacional que tem uma das suas sedes aqui nesta pequena cidade na serra do sul de Minas Gerais. Bom, mas antes sugiro que lessem o começo de todo esse horrível pesadelo.
03 de Janeiro de 2012
Sou formado em engenharia pela PUC, e no final do ano de 2011 passei em um concurso onde fui contratado por esta empresa. A partir de Janeiro de 2012 começaria a extração de minério de uma área montanhosa ao redor da cidade que se mostrou rica em metais.
Como engenheiro, fui convocado a tomar os devidos cuidados e fazer os projetos, a começar pela estranha Montanha do Diabo, uma planice elevada, cheia de dantescas árvores, que acima dela se estendia um imenso rochedo de uma peculiar forma de monstro gigantesco deitado, e numa parte estendia duas gigantescas árvores sem folhagem que lembravam chifres. Nessa planice havia também uma nascente, que ao passar pela cidade já se tornava um rio e servia também pra abastecer os cidadões e algumas chácaras próximas.
Este lugar não tinha o nome de Montanha do Diabo, só por sua forma horripilante, mas também desde o século XIX, se registrará desaparecimentos de pessoas no meio daquelas estranhas e gigantes árvores. Recentemente muitos turistas, pessoas que desapareceram e jamais foram encontradas. Lembro de um jornal da década de 50, que conseguiram encontrar um jovem de nome
Lúcio que tinha ido com seus amigos floresta adentro, no jornal dizia que o garoto estava em estado de choque, dizendo que ás árvores criaram vida naquela noite sem lua, e devoraram seus amigos.
Mas voltemos à realidade, que é bem mais terrível que essas lendas de caipiras, eu não sou daqui, eu nasci em 1986 no Rio de Janeiro, e recebi o nome de Bruno de meus pais. Vindo morar aqui ainda adolescente, e desde então acostumei a sempre fazer de tudo para beber água mineral engarrafada, vinda da cidade dos meus avós do Rio de Janeiro, Petrópolis. Todo esse ritual só pra lembrar desses meus queridos antepassados que já se foram, e que dizia que tudo de lá era melhor.
13 de Janeiro de 2012
Levantada uma pequena base próxima ao local, no dia 10 de Janeiro demos inicio a exploração de minério logo naquela figura maldita. Por um curto tempo tudo ocorreu muito bem, até chegar à essa fatídica - mas tão esperada pelos boêmios - sexta-feira dia 13 de Janeiro.
Havíamos tirado uma camada superficial de rochas inúteis, repletas de musgos, daquele rochedo com pequenas explosões, curioso dizer que dois guardas viram de noite, uma pequena luminosidade fosforescente sendo emanadas de rachaduras dela, coisa que se imaginou que seria algum tipo de gás natural ou mesmo um simples reflexo da lua. E então foi incrível, naquela amanhã de céu nublado, todos que trabalhavam na base puderam ver a luz que cegava sendo emanada do rochedo aonde alguns homens trabalhavam com britadeiras pra instalar a dinamite. Pareceu um flash de uma câmera gigantesca.
Uma equipe foi deslocada para lá, com a qual fui junto. Todos os oito operários estavam desmaiados, com os olhos queimados e sangrados, e algumas queimaduras leves pelo corpo. E das rachaduras, escorria um liquido, a principio lembrava o mercúrio, depois sua viscosidade foi diminuindo e a cor foi se tornando mais clara, como uma água oleosa, ela se misturava a terra, e algo preocupante para nós era a nascente bem perto. Alguns químicos, inclusive um grande amigo meu Leandro, recolheram amostra para testes. Suspeitaram a principio que ali poderia ter uma nascente, que em contato com as rochas poderia ter se misturado a algum metal de modo excessivo. A equipe de segurança da empresa isolou então o local. Todos, inclusive eu, fomos mandados pra casa. Voltaria ao trabalho segunda feira.
21 de Janeiro de 2012
No decorrer da semana, fiquei sabendo que os oito operários ainda estavam em coma no hospital, e definitivamente, se um dia despertassem, iriam descobrir que estavam cegos.
O trabalho na Montanha do Diabo foi suspenso por causa do perigo, e também porque o Leandro me contou em segredo, qual eles tinham de manter sigilo por ordem do governo e da empresa, mas aquilo não tinha nada de água, e sim uma mistura de mercúrio, enxofre um pouco do que parecia ser clorofila, e em maior quantidade uma substancia desconhecida. Só a clorofila saída de um rochedo era de se estranhar e muito.
Uma equipe de químicos do governo e da empresa qual incluía o Leandro, se instalaram na base de exploração de mineira para efetuar pesquisas. Eu já fui trabalhar em alguns projetos na sede. Soube que ontem, uma semana exata depois do terrível acidente, quatro dos operários morreram, como se suas veias e artérias tivessem estourado por não suportar algo que estivesse ali, dentro deles, algo sem explicação, e os outros quatro acordaram, seus olhos vermelhos de sangue, em estado catatônico, sem dizer nada, nem um mínimo som ou um sinal por gesto. Li num jornal que várias pessoas assustadas ligaram para a policia local ouvindo estranhos gemidos de desespero vindos da montanha. Eu particularmente não ouvi nada, mas sonhei que o Leandro virava um monstro e tentava atacar-me, e ao fugir, vi que todos da cidade eram monstros.
15 de janeiro de 2012
O tempo foi passando, aparente tudo normal, a não ser os velhos boatos sinistros da cidade, que sempre existiram mesmo. Três messes depois do que aconteceu já não havia mais visto o Leandro, um dos meus poucos amigos, não posso esquecer de citar também minha melhor amiga, que é uma cachorra da raça Pastor Alemão chamada Ariel. E nessa manhã li no jornal que os quatro operários aviam fugido do hospital há dois dias, causando sustos pela cidade por causa das suas deformidades, e depois nunca mais foram vistos. Estranho eles conseguirem fazer esta proeza estando cegos, e que deformidades seriam estas?
Como curioso, fui atrás dos boatos pra saber mais. E ouvi dizer que, dentro desse tempo os operários ficaram em observação no hospital, em uma ala especial, com o tempo seu corpo foi sendo tomado por feridas, e verrugas marrons e grossas por todo o corpo que lembrava até a casca de uma árvore, que iam mudando seu corpo, o deformando cada vez mais, dando gritos às vezes, e sussurrando palavras desconhecidas em uma fonética gutural.
13 de Maio de 2012
Quatro messes já se passaram desde o acidente, e quantas vezes liguei a televisão durante esse último mês e pude ver como as pessoas estão violentas por aqui, e uma estranha epidemia vem atacando as pessoas e deixando-as cheias de feridas, os médicos suspeitam que seja uma nova variação da extinta varíola que sofreu mutação com a raiva. Fui quanto me espantei terrivelmente; ontem três químicos, com os indícios dessa doença foram encontrados vagando na cidade cobertos de sangue, e agindo violentamente, foi constado que a base de pesquisas perto da Montanha do Diabo havia sangue por toda a parte, mas nenhum corpo, e nenhum sinal daqueles que trabalhavam lá. Os químicos não diziam nada só rugiam como animais e foram levados ao sanatório do Hospital, e o Leandro era um deles.
Logo me dirigi ao sanatório para ver meu amigo, ao sair de casa minha cachorra tentou me morder, tive de amarrá-la, ela anda muito agressiva, nunca foi assim. Ao chegar no sanatório disseram que não podia vê-los pois podia me contagiar. Então fingi que fui ao banheiro, peguei um jaleco de um enfermeiro distraído e num descuido dos guardas e médicos entrei furtivamente na ala restrita. Que horrível, aquelas pessoas na cama, com aquela repulsiva casca verruguenta, gosmenta e marrom, fora os ferimentos e a demonstração de agonia e ira, todos amarrados á cama. Segui em frente, desci umas escadas até uma sala no fundo, onde pude ver os três, cada um em uma cela, quando vi o Leandro, lembrei imediatamente naquele meu sonho de messes atrás, onde ele se tornava um monstro, a semelhança era enorme.
Foi então que ele se debateu contra a porta da cela, com demasiada fúria, e tomei um grande susto, ainda mais que atrás de mim já tinha um guarda e um médico. Fui agredido por ambos, violentamente, é só até aí que lembro depois apaguei. Acordei de noite dentro de uma daquelas gaiolas onde colocavam os loucos, fui simplesmente tacado lá. Comecei a pedir ajuda, mas nada. A única coisa que pude fazer é rezar, oração interrompida por um senhor de uns 70 anos de barba, com roupa de faxineiro do hospital.
Ele era meio gago, e deu para perceber que era maluco também. Ele disse pra mim “Eu estava lá, há 60 anos eu sei o que vi, preciso tirar você daqui, você fez isso, talvez consiga fazer parar, é talvez. Mas eu estava lá, às vezes as vozes falam comigo, mas me assustam, mas elas falam, é elas falam, é lá da Montanha do Diabo, elas falam que vão acordá-lo, é vão, ele dorme, dorme antes do Homem existir, ele esta dormindo, é esta, sempre esteve, as árvores guardam seu tumulo, mas eu vou te tirar daqui, eu vou.” Perguntei sobre todo essas coisas sem sentidos, mas não obtive resposta, a única coisa que pude entender é que ele era o garoto daquela velha lenda .
O velho não conseguia abrir a porta, não tinha as chaves, vazia barulho demais forçando ela, até que ele pegou uma pá de metal de catar lixo e frequicionando contra a fechadura da porta conseguiu faz-la ceder, mas com um barulho terrível. Queria ter feito mais perguntas para o velho doido, mas não podia, senão iria parar ali dentro novamente. Correndo e me escondendo, aproveitando a noite, logo que sai da ala psiquiátrica fui atacado por um médico cheio de chagas na fase e com olhos inteiramente vermelhos de sangue, ele me derrubou no chão batendo antes de uma mesa móvel cheia de instrumentos, e tentava me enforcar com uma força animal.
Ao tatear o chão atrás de mim, tentava pegar algo pegar algo que pudesse me ajudar, meu ar estava acabando, minha consciência estava se apagando, mas consegui um bisturi, com o qual cortei a garganta do médico, mas mesmo com aquele sangue me banhando, ele não parou de me enforcar, então enfiei o instrumento em seu olho esquerdo, ele soltou e caiu no chão, aparentemente morto. Puxei seu corpo para uma sala o escondi no canto, e troquei de camisa, estava com medo, tremulo, eu nunca matei ninguém, era eu ou nele, não tive escolha. Fechei a sala e consegui sair do hospital. Pois nas outras áreas o movimenta estava demais por causa da tal epidemia, e pude passar despercebido, já que a pressa em salvar vidas era grande.
De noite, enquanto retornava para casa nas ruas desertas, deparei com uma cena intrigante, um mendigo com a tal doença, ser cortava e arrancava a pele de seu rosto com as próprias mãos deformadas, que de longe até lembravam galhos de uma árvore. Ele olhou pra mim, e deu um berro, se levantando abruptamente e correndo atrás de mim. Sai correndo, pois sabia que esses loucos ficam com uma força anormal, além do que estava perto de casa. Fui cortar caminho por um terreno baldio próximo a minha casa, e cai no chão me ralando um pouco. Tentava me levantar, mas meus pés estavam presos em uns galhos de uma árvore ornamental de hibiscos, tive a impressão de que ela havia me derrubado intencionalmente.
Quando aquela criatura sem face se aproximou mais, a consegui deixar meu sapato, e me levantei a um palmo dele me agarrar. Quando estava próximo de casa, vi minha cachorra Ariel, solta, só que meu pensamento de alivio se desvaneceu em instantes, pois ela pois a correr em minha direção com ar feroz. O que fazer, pensei, mas por impulso continuei a correr na mesma direção, e quando ela pulou pra me atacar, me abaixei e rolei pelo chão. Ela então se debateu com criatura que nem sei se posso chamar de humana, qual me perseguia, e ambos começaram a brigar.
Eu gostava dela, mas entrei em minha casa e fui observar a briga pela janela. Mas não pude ver nenhum dos dois, a não se rum baita susto quando Ariel pulou furiosamente na janela latindo, chegando a rachar o vidro. Arrastei um armário nele, tranquei tudo e fui pro andar de cima de minha casa, onde ficava meu quarto, numa das janelas dava pra ver o quintal de casa, e a outra dava justo para a maldita montanha, na qual pude ver fogo, e estranhas luzes. A respeito do quintal, pude ver a corda arrebentada e sangue próximo do local onde Ariel estava.
14 de Maio de 2012
Acordei tarde, nem fui ao trabalho, e liguei a televisão, estava muita bagunça, violência, assassinatos, não só aqui na cidade como aos arredores também. Cidadões agindo como loucos, e culpa estava sendo atribuída à estranha doença. Mas eu sei isso não é uma simples doença, é algo que vai além, seja lá o que for esta ligado com aquilo que aconteceu na montanha. No momento as coisas parecem mais tranqüilas, por isso fui ao supermercado comprar uns mantimentos para não sair de casa, comprei um facão e uma machadinha por via das dúvidas.
23 de Maio de 2012
Passou uma semana, ontem a Ariel retornou muito machucada, esta calma, mas se não levá-la ao veterinário irá morrer. Essa semana passada foi muito violenta, até parece que até a lua esta envolvida nisso, ele aparece nos céus como nova e as coisas começam a se acalmar. Nos noticiários mostra isso. Eu preciso descobri o que é isso, o que esta acontecendo. Faz tempo que não vou a igreja, logo irei, pois me sinto estranho, principalmente depois do que fiz no hospital. Sorte a minha que com essa bagunça nem tiveram tempo pra se preocupar com o médico morto, apesar de ter aparecido no noticiário, ainda mais que não foi a única morte por lá. Aproveitarei pra retornar ao trabalho agora que as coisas deram uma acalmada.
25 de Maio de 2012
Ontem levei Ariel ao veterinário, o mesmo não estava muito bem, fez uns curativos nela, mas parece que infelizmente ela vai morrer. Fiquei sabendo no trabalho também que teremos licença por causa dessa misteriosa doença, e que nossa cidade e cidades em volta estarão entrando em quarentena definitivamente, ninguém mais entra e ninguém mais sai, até descobrirem o que é isso. Amanhã irei à igreja católica que tem aqui perto, não é a Matriz, mas esta de bom tamanho, reservada e calma. Sinto-me incomodado com tudo isso, talvez me ajude a melhorar, apesar de batizado nunca liguei pra essa coisa de religião.
26 de Maio de 2012
Meu Deus! Maldita hora que fui à igreja! Como posso descrever o que vi lá! Terrível! Fui ao culto noturno, no caminho escutei as igrejas evangélicas falando do apocalipse, nada de diferente do que acontece sempre. Louvam mais o Diabo que a Deus, afinal é graças ao temor do Diabo que ganham sua grana não é. Mas isso não é importante, cheguei e a igreja estava fechada, não havia culto, estranhamente onde deveria ter uma imagem de Jesus, não havia nada, ah não ser arranhões que pareciam mostrar um nome “Faunum”.
Forcei a porta e entrei, havia uma ou outra pessoa lá, ou melhor monstros, pois grande parte de seu corpo parecia ser tomado por aquele cascão preto, só não descrevo mais porque a iluminação não era das melhores. Seus olhares em cima de mim eram terríveis, pensei imediatamente em dar meia volta e ir embora. Porém uma estranha voz com som duplo e roço me chamou da seguinte forma:
- Bruno, que honra ter a visita daquele que ajudou a nós libertar.
Respondi: - Libertar? Quem é você?
Aproximei-me e fiquei sem reação, a criatura meio homem, meio... alguma coisa que lembrava uma árvore, tendo seu corpo mais de 80% coberto daquela casca e usava as roupas do bispo. Na sua testa purulenta de chagas sobre-saiam o que pareciam ser chifres feitos daquela casca, mesclados à carne. Ele era um dos antigos operários da obra, pude ver e me lembrei pelo que tinha de humano. Ele se aproximou desajeitado ficando meio metro de distancia de mim e tocando meu ombro com aquela mão nojenta de garras podres e dizendo.
-Eu sou parte do nosso altíssimo pai Faunum! Filho primogênito da Cabra Negra da Floresta a grande Mãe Shub Niggurath. O Sangue de nosso pai corre nas águas, e nós tomamos o corpo desses medíocres mortais para logo desperta-lo! Mas vejo que ainda não esta se tornando como nós, mas logo será ou então nosso pai te devorara!
Saí dando passos para trás, e escutando os sinistros risos da criatura que finalizou dizendo: - Encontramos o pergaminho escondido aqui nessa igreja, há milênios ele esta perdido. Desde que os Outros fizeram o vulcão cuspir em nosso pai e aprisioná-lo. Mas ele puniu o vulcão antes de dormir que nunca mais cuspirá suas chamas das entranhas da terra. E agora o despertaremos e ninguém impedira seu domínio.
Foi isso que vi hoje, não posso crer que tudo isso seja real, e ainda por cima é culpa minha. Amanhã terei de ir à montanha, preciso ver o que esta acontecendo lá. Acredito que esse vulcão que a criatura se referiu seja o local aonde se localiza a cidade próxima de Poços de Caldas, o que ouve aqui o que são esses seres. Só sei que a água que as pessoas estão bebendo está contaminada com a essência desde ser que dorme nas montanhas, e só não fui ainda por não beber a água daqui ou ter tempo nessa vida corrida de comer os alimentos naturais cultivados por aqui. Pararei de dar a água dessa miserável cidade pra minha cachorra e ver se ela melhora.
26 de Maio de 2012.
Inacreditável o que vi hoje, com muito cuidado no crepúsculo subi até a montanha, havia pelo menos uma dúzia daquelas coisas lá, que tomaram o antigo assentamento como uma casa para eles. Estranho que jurava que a montanha podia respirar. Tomei um susto certo momento, onde fui abordado por um agente da policia federal que estava tentando descobrir o que realmente estava acontecendo nessa cidade, seu nome era Thiago. Logo viu que eu não era um deles, e por isso me tratou bem. Contei para ele a história que havia descoberto, eu sei que apesar de não querer ele acreditou um pouco no que disse afinal ele não tinha outra explicação para o terror que vislumbrava.
Ele falou que avisaria as autoridades para cortarem o abastecimento de água e ver o que aconteceria a essa altura. Logo fui embora, porque percebi que quanto mais tarde ficava, mais aquela floresta parecia viva e o lugar perigoso, o agente ficou por lá. Ainda devo dizer que tremores pequenos podem ser sentidos, creio que seja por causa daquilo.
26 de Junho de 2012.
O que dizer, novamente estamos na Lua Negra, e esta uma bagunça lá fora, minha cachorra morreu há uma semana mesmo não bebendo mais a água. Essa semana apareceu na televisão que um agente da policia federal chamado Thiago esta desaparecido. Acredito que depois desse tempo pelo menos 40% da população já se transformou totalmente nessas criaturas. Os gritos e berros a noite são horríveis. Consegui comprar uma arma alguns dias atrás, um revolver calibre .38, mas não acredito que ele me será muito útil.
Ontem aconteceu um massacre do exercito que exterminou vários civis doentes, que os atacaram de noite. O mais estranho é que os soldados tiveram muitas baixas, os quais foram verdadeiramente estripados por estes ‘pobres doentes’. Só isso deu para ver na televisão, me sinto tão só, não sei o que fazer, os telefones já não estão funcionando mais, nem a internet. De qualquer modo mesmo que pudesse fugir daqui, não deveria, pois a culpa é minha de tudo isso estar acontecendo. Preciso de um plano, e irei bolar um.
17 de Julho de 2012.
Vivendo sozinho e escondido tive uma idéia, extremamente arriscada. Pelo menos 70% da população já se tornaram essas coisas. Devo ser cuidadoso e furtivo, estamos no final da lua cheia, amanhã já deve começar toda esta zona de novo. Então hoje me preparei e irei até a montanha do Diabo, pegarei as dinamites que devem estar na base da antiga mineração, guardados e colocarei em todas as fendas daquele maldito rochedo, mandarei tudo pelos ares. Não sobrara um só pedaço de filho de Cabra Negra.
18 de Julho de 2012
Maldição como poderia saber que aquelas árvores estavam mesmo vivas, se mexiam, tive de atirar em algumas criaturas na subida, logo aquela arma me foi inútil e consegui só matar dois deles. As malditas árvores brincaram comigo, me deixaram subir, mas não me deixariam descer novamente. Consegui adentrar a base que estava desprotegida, pois eles pareciam estar concentrados em preparar algo lá fora bem próximo ao rochedo. Apenas alguns daqueles monstruosos seres que tinham a aparência em comum com aquele que encontrei na igreja, revezavam para levar pessoas normais, que estavam bem fracas por falta de alimentação até as árvores próximas do lugar preparado.
Num momento de descuido consegui entrar, como aquele lugar fedia. Peguei as dinamites, e vi o agente Thiago acorrentado desacordado, mas pelo barulho percebi que uma das criaturas se aproximava, me escondi atrás de uma porta, e quando ele levantou o Thiago para levá-lo acertei ferozmente com vários golpes de meu machado próximo ao que seria sua cabeça, cortei a fora, seu sangue era de uma cor diferente, meio esverdeado.
Peguei uma chave tirei as correntes do Thiago, consegui acordá-lo e o conduzi ainda meio tonto através de uma saída de emergência que tinha pelos fundos. Escondemos por ali no mato, dei a ele um pouco de água e uns biscoitos que tinha comigo para ajudar-lhe a melhorar. Agora todos sabiam que tinha mais alguém ali, e estariam em nossa busca.
Convenci Thiago a me ajudar em meu plano, apesar de louco para fugir, ele não teria mais volta nem eu. Ele cobriria os arredores do rochedo em volta implantando as dinamites a partir de onde os operários haviam perfurado, já que estava debilitado, e escalaria o rochedo e colocaria na parte de cima. Dei a ele o facão e parte das dinamites e cada um seguiu assim seu caminho furtivamente, o detonador delas ficou comigo.
Tive de tomar muito cuidado em minha escalada, pois três daquelas criaturas passaram bem embaixo de mim, foi uma sorte não terem me visto. Era desesperador, estava ofegante, depois que conseguir chegar ao topo, fui encaixando a dinamite em buracos que fazia com a machadinha, nessa altura já deveriam ter me percebido. Segui então até aqueles duas antigas e sinistras árvores secas. Bati em suas raízes com o machado e encaixei o resto das dinamites, nesse momento foi como a montanha desse um grande urro e podia jurar que as árvores me acertaram e me tacaram para baixo do rochedo de uma altura de uns dez metros, que pra minha terrível sorte as árvores embaixo realmente me seguraram sem que me machucasse muito e as criaturas me cercaram e me capturaram.
25 de Julho de 2012
Já estou muito fraco e cansado e faminto. Venho escrevendo neste meu diário desde que o recebi da empresa no dia de minha contratação. Uma grande empresa de exploração minério, multinacional que tem uma das suas sedes aqui nesta pequena cidade na serra do sul de Minas Gerais. Bom, mas antes sugiro que lessem o começo de todo esse horrível pesadelo. Ele foi a única coisa que me sobrou desde que fui capturado por estes monstros, o detonador perdi na queda.
Pude contar mais cem pessoas aqui além de mim, nesses dias que estive preso aqui das quais restam apenas menos de vinte, o pior é que esta prisão é feita pelas árvores, elas estão vivas, caminham e se mexem, juro que rostos horripilantes podem ser observados em seus troncos. Elas nos mantêm nesse pequeno lugar, nos cercando, às vezes mandam restos de comida e baldes de água suja para bebermos, e durante esses dias de lua minguante, pegavam algumas pessoas e as degolavam e arrancavam sua pele em estranhos rituais para este terrível deus das florestas.
Thiago também esta aqui, porém foi brutalmente massacrado pelas criaturas, ossos quebrados nas pernas e braços, esta parcialmente consciente, não sei como ainda esta vivo. Os tremores vêm sendo cada vez maiores, e a mesma criatura do dia da igreja, me disse no dia da minha captura que seria um presente especial para o tal deus, e eu seria realmente devorado por ele. Aonde fui me meter, devia ter tentado fugir mesmo.
A noite chegou, e parece que e o grande momento para estas criaturas, eles estão levando as pessoas para começar seu macabro ritual, dessa vez serei uma delas. Que Deus tenha piedade das nossas almas, e da humanidade quando essa criatura acordar. Provavelmente esse é o fim de meu diário, espero que se alguém ler isso consiga dar um fim nesse mau que eu dei inicio.
01 de Agosto de 2012
Quem poderia imaginar que aquele velho doido ainda estava vivo e salvaria a humanidade, escrevo isso com tanta euforia apesar de estar na cama de um hospital. Chegada à hora, degolaram e arrancaram a pele do penúltimo homem normal que era o Thiago, a montanha começou a se levantar, e tive o desgosto, amarrado ali de vislumbrar aquela terrível e gigantesca criatura se levantando. O que parecia ser suas pernas era como um grosso tronco de árvore repleto de coisas semelhantes a tentáculos raízes, subia e enrolava um corpo semelhante a pedra, onde se entendiam centenas de braços no formato de cumpridas raízes de árvores, e seu rosto era mesclado ao pescoço numa boca repleta de dentes e aqueles chifres no formados pelas antigas e grandes árvores secas. Pelo seu corpo se entendiam faces, com olhos e expressões vivas, e gemidos aterrorizadores, era a alma daqueles que devorou pelo seu sangue.
Logo entre a floresta apareceu o velho louco gritanto: “Jurei que me vingaria de vocês seus malditos, e aquele amuleto que o xamã me deu realmente me tornou invisível a estas árvores malditas! Eu observei o que fez Bruno e achei seu aparelho, darei um fim nisso.” Por sorte do destino, antes que as criaturas pudessem tomar alguma atitude ele apertou o botão do detonador.
Vislumbrei então aquilo que seria os chifres formados pelas árvores sendo decepados de sua cabeça, e o corpo do deus antigo sendo dividido pelas detonações. E tudo começou a cair, inclusive as partes do corpo das criaturas que se separavam a parte demoníaca da humana, como se desfizessem. Porém tudo aquilo caiu bem onde estávamos, principalmente em cima do velho. E o grito daquele deus e do sumo sacerdote das criaturas, nunca me esquecerei.
Ninguém acreditou em minha história por aqui, creio que não sobrou nenhum vestígio daqui, mas na verdade acho que não estou muito bem da cabeça, ando vendo coisas, tendo sonhos estranhos, minhas pernas estão quebradas, nem sei se poderei andar novamente. Mas uma criatura muito pior que esse Faunum me chama em meus sonhos, e agora temo que também seja real, e que realmente acorde nos oceanos no dia 25 de dezembro desse ano. Agora sei que há horrores que se escondem pelos cantos da terra a milênios e é demais para uma mente humana suportar.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
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