Por: Mateus Silva Saraiva
Desde que houve a quebra da bolsa
de Nova York, eu esperava tempos difíceis, mas não esperava estar nessa
situação, com a loucura corroendo minha sanidade, enquanto minha consciência
vaga pelo espaço vazio preso eternamente aqui. Era uma noite como as outras,
estávamos no clube onde ocorrem as lutas ilegais e o tráfico, o luto pela morte
de um pai ainda se mantinha. Ele era muito influente na família.
Ainda lembro-me do Peter me
chamando, aquele irlandês desgraçado que fora meu amigo e acolhi como irmão.
“Vicente! Um daqueles estrangeiros folgados, metidos a intelectuais da
Miskatonic veio xeretar nosso clube.” Fomos então pedir gentilmente a base da
bica que ele sumisse de lá, mas não é que o amarelo quis entrar no ringue com o
Peter. Até a primeira vista pensei que o Peter ia cair, mas ele tomou uma
surra, convenhamos que até perdi uma grana apostando errado.
Depois do fim das apostas e
lutas, fomos dar um fim no rapaz, lá no beco, ele estava vivo, apenas
desmaiado, apesar de termos quebrado sua perna para aprender a não xeretar em
certos cantos e em seguida, a mando de Michael, tínhamos de cobrar algumas
bebidas do velho Judeu maluco, dois rapazes foram no dia anterior e ainda não
deram as caras, Michael acha que pegaram a grana e sumiram. Eu culpo esse
desgraçado, foi aonde começou tudo. Ainda lembro-me de tudo que ocorreu naquela
noite.
Lá no final do beco, ficava a
casa do Dr. Carter, um professor aposentado e colecionador de bizarrices. As
luzes estavam acesas, e muito barulho podia ser ouvido, a porta parecia entre
aberta. Era nossa área, então eu e o Montanha fiel amigo de infância, grande
como um touro e burro como uma porta, ou talvez, apenas inocente, qual fica de
segurança no clube, fomos lá dar uma olhada, enquanto Peter ficava de olho na
entrada do Beco.
A janela do segundo andar se
quebrou, e foi à primeira vez que vi, ou acho que vi de relance uma daquelas
criaturas, como posso ter certeza, ainda acho que tudo é apenas um pesadelo.
Continuávamos a nos aproximar, empurramos a porta furtivamente, ou quase, se
não fosse pelo Montanha quase arrancá-la. Então pude ver aquela estatua de
pedra de mais de dois metros saindo do porão e carregando uma espécie de
cilindro. Até então não entendia como uma estatua podia se mexer, disparei
contra ela com minha 45, nem arranhou, Montanha que tentou investir contra o
ser foi arremessado longe. Jamais vi algo com tanta força para conseguir
arremessar o Montanha, assim, como se não fosse nada.
Ele caiu chorando de medo no chão,
o ser caminhava em minha direção, eu simplesmente sai de seu caminho, e no alto
da escadaria pude ver o professor morto, esmagado. Aquele ser não parecia se
importar muito conosco, simplesmente saiu pela porta, pude escutar o grito
desesperado do Peter. Depois de ajudar ao Montanha levantar, o coitado estava
desesperado, nunca tivera levado tamanha surra. Fomos lá fora ver se estava tudo
bem com o Peter.
Lá fora depois do beco, havia uma
das botas do Peter enroscada em um bueiro, indicando ao que parece que ele caiu
enquanto corria na direção oposta que a criatura de pedra seguiu, esta foi ao
norte. Nós sabíamos que Peter sabia se cuidar, então nós demos uma volta no
quarteirão, para ver se o encontrávamos, e vimos ele sendo parado pela policia
lá ao longe, então decidimos deixar para lá toda essa loucura, e Peter resolver
os problemas e seguir para mansão do judeu maluco, como era conhecido Ephraim
na cidade. Preferia fingir que nada aconteceu, aquilo era o tipo de coisa
bizarra demais, e que ninguém acreditaria em nós ou nos trancariam em um
sanatório. Ainda mais com as estranhas luzes no céu aquela noite.
Sobre aquele velho judeu, o povo
da cidade contava que havia ficado doido e abandonado o sacerdócio na sinagoga
depois que sua mulher morreu ao dar a luz, e que sua filha, poucas vezes vista,
era bonita, mas muito esquisita, meio que não batia bem da cachola como o pai.
Já era meia noite, paramos o carro, e fomos bater no portão principal da
Mansão. Não demorou para que sua filha abrisse a porta da mansão, trajando uma
camisola de seda branca quase transparente, e foi caminhando como um ninfa
grega, ainda que um pouco desajeitada, pelo pátio entre as árvores do jardim até
o portão principal.
Nós a cumprimentamos, sem resposta, meu Deus
como as imagens nos iludem, e isso me dá calafrios agora, apesar de agora mal
sentir meu corpo. Ela parecia tão bonita, pele pálida sob o luar, olhos grandes
e tão claros que pareciam brilhar, cabelos loiros semi ondulados, um corpo
sedutor, não devia ter nem vinte anos. Eu como sempre um galanteador, logo dei
uma piscadela para ela, pelo menos isso ela correspondeu com um sorriso, e um
sinal para entrarmos após destrancar o portão.
Seguimos, era tão sombrio aquele
jardim, um jardineiro não cuidava daquele lugar há anos. Na porta Shalomo
Ephraim nos recebeu com educação. Já vestia o pijama de dormir, coberto com um
sobretudo. Perguntei sobre os dois garotos que foram levar bebidas para ele
ontem, ele então nos convidou a entrar e tomar um whisky, e conversarmos sentados,
mais relaxados. A casa dele dava arrepios, cheio de coisas estranhas e
símbolos, mas o sofá era confortável.
Ele pediu que aguardássemos,
enquanto ia buscar a bebida, pedindo para a filha dele ficar conosco. Não podia
perder esta oportunidade, logo olhei para ela, ela entendeu, e fez um sinal
para que fosse com ela. Pedi que Montanha esperasse por mim, e enrolasse o
judeu até eu voltar. Nunca fui de dispensar um belo rabo de saia.
Nós fomos até um quarto nos
fundos, era escuro, parecia mais uma dispensa, sem moveis. Ela não abria a boca
para me beijar, e nem deixava tocar em sua pélvis, sua pele era muito gelada,
mas o que deveria pensar, a noite estava fria mesmo, juro que podia escutar ela
fazendo alguns sons estranhos, e como ela estava sem roupas de baixo, bom logo
aprovei, arriei as calças, e quando coloquei... Meu deus! Droga, como? Isso me
dá náuseas só de lembrar. Era gelado e parecia que estava enfiando em um balde
de cheio de minhocas ou larvas, e algo lá dentro dela tentou me agarrar, me cortar.
Isso é nojento, não acredito, eu
que sempre fui um mulherengo acho que nunca mais chegarei perto de uma mulher
novamente. Logo que percebi aquela coisa estranha, pulei para traz, e saquei a
arma, havia algo mais enroscado em minhas mãos, em mim. Era sua pele, que
descolou do seu corpo quando no súbito ato do reflexo, pulei para trás. E então
como parte da pele que cobria aquilo que fora uma bela mulher se desfazendo em
cima de mim, pude ver a silhueta de um horrível ser, parecia ter asas e ia rasgando
a pele enquanto tentava me agarrar com pinças como aquelas de insetos ou
crustáceos, onde fora suas mãos, e imitindo um som como de insetos.
No desespero só podia atirar,
enquanto a criatura tentava me empurrar para outra porta que parecia dar para
um porão. Certas vezes, aquilo que deveria ser sua cabeça acendia uma estranha
luz fosforescente que me mostrou como ela era, de coloração rosada, com um
pouco mais de metro e meio, seu corpo lembrava um crustáceo, com uma par de
barbatanas dorsais, e asas membranosas, diversas patas articuladas que
terminavam em pinças, aquilo que deveria ser sua cabeça tinha formato elipsoide e era um emaranhados do que pareciam antenas curtas. Ah droga, como pude
transar com isso? Acho se pudesse vomitaria só de lembrar.
As minhas balas pareciam que não
a machucavam, até que apesar de sua força, consegui empurrá-la para o tal porão,
onde ela tentara me atirar, e fechar a porta. Saí desesperado. Só que a casa
estava toda diferente, parecia um labirinto, paredes e portas aonde não havia
antes. O que estava acontecendo? Quando em um pequeno lapso, pude ver que ao
mesmo tempo, em que em um determinado lugar que parecia ter uma parede sem
aberturas também tinha uma janela, então, que se dane, no meio dessa loucura
resolvi saltar por ela ou bater na parede.
Caí no jardim da mansão, pude ver
entre as árvores, o Montanha saindo do portão para fora, mas estava comigo!?
Mas como assim, como eu estava lá, sendo que eu não estava? Maldito pesadelo
que não acabou aquele momento e ainda persiste. Eu estava sem fôlego para
gritar, minha voz mal saia entre minta tentativa de respirar, estava confuso
demais. Ao tentar me levantar, vi o chapéu do Billyboy entre os arbustos, era um
dos garotos. Puxei ele, infelizmente ele estava morto, e muito ferido, aquele
maldito judeu, o que fez com ele!
Foi então que eu escutei
grunhidos vindo do Billyboy, ah ele parecia vivo, fui ajudá-lo. O desgraçado me
agarrou pelos braços e tentou me morder, e o grito desesperado não consegui
segurar, quando puxei ele dos arbustos, e só tinha metade de seu corpo, com as
vísceras e tripas se enroscando nos arbustos, e mesmo assim ainda estava vivo. Pelo
menos assim o Montanha ouviu meus gritos e correu para me acudir e não vinha
sozinho, Peter estava com ele.
Logo que chegou, sua primeira
expressão antes mesmo de me ajudar foi:
-Oras chefe, você estava do meu
lado como veio parar aqui?
-Esquece isso e tira essa coisa
de cima de mim! – Gritei.
Enquanto Montanha puxava a metade
do garoto, Peter pegou suas facas com tremenda destreza e desferiu golpes até
cortar o braço do morto-vivo. Foi
preciso o Montanha esmagar-lhe a cabeça com uma pedra para parar. Porém, nesse
instante outro pulou em cima das costas de meu amigo grandalhão, era o outro garoto
que acompanhava o Billyboy e começou a morde-lhe. Ele com toda raiva corria e
se batia contra a parede para criatura soltá-lo. Até que neste mesmo momento as
portas da mansão se abriram e uma gigantesca mão retirou o morto-vivo das
costas dele, e esmagou seu crânio sem esforço, era novamente aquela estatua de
pedra ambulante, e ao seu lado estava o desgraçado Ephraim.
Apavorados, Montanha e Peter,
tentaram sair correndo em direção ao portão de saída, que sem ninguém tocá-lo
começava a se fechar. Em palavras estranhas e gestos manuais, podia jurar que
aquele judeu deu vida e movimento as planta que começaram a tentar segurar os
meus dois amigos, sem sucesso no caso do Montanha que era muito forte e
consegui fugir antes do portão se fechar. Enquanto isso, apontei minha arma para
Ephraim, e perguntei:
-O que esta fazendo conosco seu
verme! Vou estourar sua cabeça.
-Se estourar minha cabeça, nunca
saíram daqui, e o golem vós matara. Respondeu tranquilamente o judeu, enquanto eu
continuava a ameaçá-lo, e continuou.
-Eu posso ajudá-los se me
ajudarem. Não tem ideia do que tu fizeste com aquela criatura, o que ela é,
será mais seguro se conversarmos lá dentro, prometo que explicarei tudo.
Nesse momento pude ver aquele ser
que enfrentei lá dentro sair por uma janela, voando desajeitado, carregando um
cilindro, idêntico ao que o tal do golem estava. Ele insistiu para entrarmos
logo, Peter estava emaranhado nas relvas tentado pular o portão sem sucesso. O
convenci que deveria vir comigo apesar de meu grande receio em entrar lá novamente,
eu sempre o ajudei desde que veio a este país, então ele me devia. Quando
resolveu se acalmar e vir comigo, as plantas simplesmente o soltaram em um
passe de mágica.
Dentro da mansão ele começou a
contar sua sombria história. Sua mulher e filha morreram no parto há quase
trinta anos atrás. Ele não entendia porque Deus havia tirado seus amores de sua
vida, então começou a buscar um meio de preservar os corpos e trazê-los
novamente a vida. A princípio se deparou com a criação do golem, lendo os
antigos manuscritos, uns de tais Sepher Yetizirah e Zohar, mas era um ser burro
demais e que não poderia ser habitado por uma alma, uma estátua feita sob
certos rituais e com um nome divino na testa, criação que ele se dispôs a
tentar enquanto prosseguia com seus estudos.
Não demorou para se deparar com
os tomos de necromancia e ciências ocultas, mas não queria que sua família
voltassem como meros zumbis, a consciência e o cérebro tinham de ser
preservados, então em livros tão misteriosos como as estrelas do céu, encontrou
relatos de uma raça vinda de um mundo chamado Yoggoth, chamados de Mi-go e
podiam preservar os cérebros humanos e sua consciência em uma espécie de cilindro,
então conseguiu um meio de contatá-los por estranhos rituais.
Para seu horror teve sucesso, e
fez um acordo com os seres do outro mundo, os corpos de sua mulher e filha que
até então permaneceram congelados com ajuda de um tal Dr. West, com o qual
tinha um acordo, tiveram os cérebros arrancados e preservados, em troca ele
comprou um terreno de uma antiga pedreira aos arredores da cidade aonde havia
uma colônia dessas criaturas, e então passou a de certo modo protegê-las, e um
daqueles seres literalmente vestiu uma pele humana, para manter contato com
ele, na realidade vigiá-lo, e ali viveu sob aspecto de sua filha morta. Shalomo
Ephraim acabara se tornando um fantoche de seus próprios demônios.
Enquanto isso financiava as
pesquisas do Dr. West, qual tentava vencer a morte pela ciência, e manter o
corpo e a consciência vivos e intactos. Sempre tendo péssimos resultados,
muitas vezes por puro sadismo criando aberrações, muitas dessas aprisionadas no
velho galpão da pedreira. Por fim ele percebeu que só estava sendo usado por
ambos os lados.
E recentemente um aventureiro,
agora falecido, havia conseguido adentrar a pedreira e roubar um dos cilindros
dos Mi-Go, quais falaram que era para ele dar um jeito de recuperar, pois neste
estava o cérebro de sua esposa. E nesse momento inapropriado foi quando os
garotos estiveram na mansão para entregar as bebidas, e foram mortos por tais
monstros alienígenas. No seu desespero pediu que o Dr. West os revivesse,
enquanto buscava pistas sobre onde estava o cilindro. Logo soube que foi
adquirido pelo professor e colecionador de antiguidades, o senhor Carter. E
mandou o golem na surdina da noite recuperar o cilindro, por bem ou por mal.
Mas no final das contas aquele
não era o cérebro de sua mulher, era um outro qualquer. As criaturas mais uma
vez o tinham manipulado. E nós tivemos a infelicidade de chegarmos no momento
errado. E por sabermos de sua existência as criaturas iriam nos perseguir e nos
matar, deveríamos nos esconder lá aquela noite, pois na mansão havia um cômodo
secreto, e lá fora elas iriam nos perseguir. E que nossa única chance era
explodir aquela antiga pedreira, e que isso seria um favor para ele também.
Enquanto nos contava estas
histórias, nos trouxe seus livros arcanos, que Peter foliava. Até que por fim
Ephraim encerrou dizendo: “Deus não existe, e esta cruz que carrega no peito
senhor Peter é inútil, Jesus é apenas uma blasfêmia aos Antigos.”
Podia ver que Peter um fanático
religioso, católico, não estava nada bem, podia jurar que seus olhos estavam
lacrimejando, ele estava falando sozinho, que não era possível, que nada
daquilo era possível. Entre rezas e suspiros, podia dizer que aquele era o
princípio da sua insanidade, para mim ainda era o princípio de meu pesadelo.
Como aquele tal golem poderia ter nos esmagado, julguei que apesar de louco, o
judeu falava a verdade, e aceitei sua oferta de esconderijo. Arrastando Peter
comigo, que estava extremamente nervoso e não gostou nada da minha ideia.
No andar superior havia uma porta
atrás de um armário, lá não havia janela, tinham alguns coxões e água. Parecia
mais como uma prisão, porém, arriscamos. Do lado de fora a porta foi bloqueada
novamente pelo armário. Exausto antes de pegar no sono, perguntei ao Peter como
ele tinha se livrado da policia antes, e se acreditava em toda aquela loucura.
Ele respondeu que deu um jeito com a velha e boa mentira, Peter sempre foi
labioso, e que não sabia mais em que acreditar, só esperava acordar daquele
pesadelo. Pude ouvi-lo rezando antes de apagar no sono.
Mal havíamos apagado, quando
barulhos súbitos nos despertaram, pude escutar dois tiros pelo menos, e o
barulho que era claramente o armário caindo. Esperamos um pouco e foi então que
nos preparamos para sair, tivermos então de arrombar a porta, lá fora vários
moveis estavam destruídos, uma luta aconteceu ali, descendo as escadas, o caos
era ainda maior, no chão se estendiam várias massas gosmentas e borbulhantes,
exalando um forte cheiro, entre a massa pude identificar aquelas “pinças”. Não
havia nenhum sinal do golem ou do judeu. Então seguimos em direção aquele
porão, no caminho tropecei em uma espingarda e naqueles velhos livros,
provavelmente do judeu, os quais apanhei.
Observando com cuidado, podíamos
ver que tinha alguma coisa lá em baixo, escondemos na sala externa a que
levaria o porão, quando uma daquelas criaturas crustáceas aladas saiu do porão
voando pela janela. Seguimos em direção
ao porão, mas algo mais subia pelas escadas. Nós preparamos para atacar o que
quer que fosse aqui, que aberração, duas criaturas bípedes, aberrações de uma
mistura cirúrgica de partes humanas com partes animais, aparentemente de
cachorro ou bode. Felizmente conseguimos pegá-las desprevenidas, e desmembrar
seu corpo, mas ainda assim, os membros separados continuavam a se mover. Ao
descer do porão, nos deparamos com um laboratório, e entre diversas jaulas, em
uma a parte, havia uma mulher amarrada em uma maca, desmaiada, e na maca ao
lado dela, um estranho corpo humanoide com o cérebro retirado.
Eu ajudei a mulher, com receio
que ela podia ser mais uma daquelas criaturas, as vezes acho que depois do
acontecido, adquiri um pavor de mulheres. Enquanto isso, Peter remexia algumas
notas daquele que estavam lá no laboratório, eram registros das experiências e
aprendizados que o tal Dr. West fizera junto ao que como descreveu nas notas
“fungos de Yoggoth”, uma referência aos tais Mi-Go. A mulher seria mais uma das
suas experiências, ela deveria receber o cérebro do que erroneamente
acreditavam ser a antiga esposa do judeu. Quando a mulher acordou, estava
desesperada, mas consegui acalmá-la.
Seu nome era Carolline, uma média
do Hospital da cidade, em uma proposta de encontro junto ao Dr. West, ele a
segou, e disse alucinar, assistindo o doutor conversar com estranhas
monstruosidades crustáceas naquele laboratório. Pude ver o terror tomá-la,
quando disse que não foi uma alucinação, mas apenas não havia adormecido. E que
mesmo em pavor, precisávamos sair dali o quanto antes. Ao sair do porão,
podemos ouvir os barulhos da sirene da policia. O único jeito era sair pelos
fundos, ou fazer a mulher de refém, afinal, quem acreditaria na história que
tínhamos para contar. Pelo menos a médica estava grata por temos a salvo, e
cooperou conosco.
Saímos pelos fundos, mas logo na
rua de trás, demos de cara com um carro de policia. Por sorte era o Thomas
sozinho, um policial, que digamos sempre colaborou conosco. Ele ajudou a
mulher, enquanto deixou eu e Peter irmos, e que no dia seguinte aparecia no
clube para acertar o preço da nossa liberdade. O Peter foi direto para clube,
enquanto eu fui para minha casa, mas a pé, lembrei de um grave erro, meu carro
ficou para trás, e sabia que isso daria problemas.
Logo de manhã, acordei com a
batida da policia na minha casa, por sorte já esperava por isso, e então
consegui fugir, fui direto ao clube. Lá fui recebido pelo velho Joe, o zelador
do lugar, ele mencionou um fato que me deixou preocupado, Peter não havia
chegado de madrugada, e ele dormia nos fundos do Clube. O cansaço era tanto que
fui descansar apesar das preocupações. Fui então acordado logo após o almoço
pelo Montanha, que estava preocupado por ter sido mordido por aquele morto-vivo
e antigo companheiro, e que não entendia
o que havia acontecido naquela mansão na noite anterior. Nunca o vi tão
desesperado assim, como uma criança ele esperava que tudo fora apenas um
pesadelo, e nada mais.
Joe avisou que devido as
circunstância e ações policiais o clube ficaria fechado por uns dias, e que
provavelmente Michael, viria conversar comigo talvez naquela mesma noite, e também
me mostrando as noticias do jornal. Eu estava lá entre a misteriosa morte do
professor Carter, e estranhas luzes que tinham sido vistas no céu daquela
madruga, noticia onde eu era o principal suspeito do desaparecimento do judeu
Ephraim e dos corpos encontrados mutilados na mansão. Talvez o menor dos
problemas, seria eu resolver isso ao considerar as criaturas que rodeavam nossa
cidade.
No crepúsculo o Peter chegou, ele
estava estranho, um olhar vazio seguia no semblante de sua face. Ao
questioná-lo, mencionou que havia ido à igreja, seguindo direto para seu
quarto, de onde saiu apenas quando Michael chegou algumas poucas horas depois
dele. Acompanhado de dois dos seus mais fieis homens, com uma voz ironicamente
calma, intimou ao Peter e a mim, para sentarmos a mesa dos fundos, onde
conversaríamos sobre toda aquela zona da noite anterior:
-Quem você pensa que é Vincent!?
Nada mais que um bastardo inconsequente! Uma vergonha para família! Seu pai
estaria cuspiria em você, se ainda ele vivesse! – Gritou Michael entre inúmeras
palavras mais, até ser interrompido por Peter, que se pronunciou com uma
incrível convicção:
-Fala aquele que matou o próprio irmão! Um
verme pior que próprio Caim que a sangue frio matou Abel! Eu sei bem que você o
envenenava todos estes anos, pela inveja do seu posto na máfia!
Palavras que jamais imaginava que
viriam dele, histórias que no fundo acreditava naquele momento, mas não
conhecia, e como ele poderia saber disso? Logo a reação e o olhar espantado de
Michael provaram que tais palavras eram verídicas, e antes que ele e seus
homens tomassem alguma reação, ou mesmo ele falasse algo, saquei a arma e
atirei na cabeça do Michael, e praticamente ao mesmo tempo tomando a mesa na
direção dos seus capangas, que não demoraram a disparar em mim. Peter parecia
saber o que aconteceria, e enquanto a mesa tombava no chão, ele já pulou ao
lado preparando suas facas e investindo em um dos capangas que começara a
disparar em mim, com um golpe certeiro na garganta.
Antes que o outro capanga
atirasse nele, conseguiu virar o corpo daquele individuo na direção de seu
parceiro, usando-o como um escudo contra aos tiros que então a ele seriam
disparados. Uma ótima oportunidade, mesmo estando ferido, que consegui para
acertar aquele maldito e abatê-lo antes que ferisse o Peter. Joe logo veio com
sua espingarda, e felizmente não atirou em nós já que eu mesmo não tinha mais
balas, e declarou nunca ter gostado do Michael mesmo. Eu tinha levado três
tiros, dois na perna direita e um entre a barriga e o peito, e sabia que não
poderia ir ao hospital sem ser preso, mas é nesses momentos que o destino sorri
com um sarcasmo aqueles afortunados sem sorte.
Alguns minutos depois do
acontecido, enquanto Peter e Montanha tentavam me ajudar, o policial Thomas
veio cumprir sua visita como prometido, e logo que me viu e toda aquela baderna
exclamou:
-Cadê meu dinheiro velho amigo!
Precisa me pagar bem antes de morrer, ainda mais se quer que eu ajude seus
camaradas a limparem essa bagunça.
Resumidamente tentamos esclarecer
tudo que aconteceu desde a mansão, aos problemas de “família”. Obviamente ele
não acreditou muito, só não se duvidou mais dos problemas relativos à questão
da máfia e do tráfico ou das aberrações na Mansão. Mas logo se propôs a buscar
aquela médica que havíamos resgatado na madrugada anterior daquela mansão, para
me ajudar com meus ferimentos. Afinal ele queria seu pagamento, como um bom
policial corrupto, a maioria deles é assim mesmo caso não saiba. Agora após
disso não lembro muito do que aconteceu, pois desmaiei, mas lembro de um
pesado, qual me atormentou pelos dois dias que permaneci desacordado.
Tal pesadelo, às vezes ainda o
tenho. Ah! Era um dos bordeis mais caros da cidade de Arkham, com as mais
lindas garotas me esperando em um quarto só para mim, eram pela menos meia
dúzia delas, as minhas favoritas, aliás, bebida no móvel de canto e boa música
na vitrola, mas de repente quando elas se deitavam comigo e sobre mim, suas
peles se rasgavam, e de dentro de sua carne saiam àquelas criaturas crustáceas
monstruosas. E em meio a gritos silenciosos, eles me prendiam, me cortavam,
arrancavam os meus órgãos, e os lençóis de seda rosada se manchavam ao carmim
do sangue, enquanto podia assistir tudo, até finalmente abrirem minha cabeça.
Foi então que acordei, ainda era
de tarde, o Peter e a médica estavam do meu lado na cama do clube. Peter
mencionou que ele junto do Thomas, foram deixar o carro do Michael, junto com o
mesmo e seus capangas nas imediações daquela pedreira, já que precisavam dar um
fim neles mesmo. E então depois do que o
policial viu naquele galpão, não hesitou mais em duvidar das nossas histórias,
providenciando no dia seguinte algumas dinamites para nós, e uma ação policial
que estaria sendo realizada no momento dessa conversa. A médica concluiu que o
tal Dr. West havia sumido da cidade, em uma viagem para ninguém sabe aonde.
Ela estava ansiosa para ver mais
dessas coisas, demonstrando uma curiosidade mórbida pelas cirurgias bizarras e
as outras demais monstruosidades que nós deparamos, diria que aquela médica era
louca, ou talvez tenha ficado depois de tudo que passou. E como queria dar um
fim em tudo isso logo, para poder ver meus pesadelos terem fim, pensei que ela
poderia ser útil, e seguir comigo, Montanha e Peter para pedreira na velha
caminhonete do Joe. Mesmo incapacitado pela dor e os ferimentos, peguei a
espingarda do judeu, enquanto o Peter se atentou em pegar apenas os livros do
velho, ele mal sabia ler, cada vez me parecia mais estranho, enquanto o
Montanha ia carregando a traseira da caminhonete com as dinamites que a nós
foram arranjadas.
No caminho Peter pronunciava estranhas blasfêmias, quais supostamente
leu naqueles livros, inclusive o meio de derrubar o golem, caso nós
defrontássemos novamente, e consistia em simplesmente conseguir apagar o tal
nome místico de sua testa. Aquele homem não parecia mais ser meu amigo, e houve
momentos que temi que um daqueles seres alienígenas monstruosos havia entrado
em seu corpo, mas se fosse assim, porque ia se empenhar tanto em destruí-los?
Quase chegando ao nosso destino, avistamos uma viatura da policia tombada na
estrada, que chamou nossa atenção, paramos para ver, e lá dentro dele estava
Thomas inconsciente e com sua submetralhadora Thompsom do lado, enquanto uma
massa de carne e sangue cobria parte da frente do veículo.
Montanha o levantou e o colocou
na traseira da caminhonete, junto dele. Não podíamos demorar mais, pois logo a
noite ia cair, e as coisas ficariam muito ruins para nosso objetivo. Então
seguindo o caminho tivemos o desagradável encontro com algumas poucas daquelas
aberrações monstruosas, alguns apenas mortos vivos decrépitos, outros, misturas
cirúrgicas entre animais e homens. Cobre os menores conseguíamos passar por
cima, já os maiores tínhamos de desviar. Chegando ao destino as portas do
galpão estavam abertas, e aqueles monstros mortos viventes devoravam restos de
policiais, próximos a uma viatura com as portas escancaradas. Enquanto
atropelávamos algumas, montanha logo saiu da caminhonete e pegou seu porrete,
que há muitos anos tinha tomado de um policial e foi esmagando as criaturas com
porradas.
Logo Thomas acordou e passou a
nos ajudar, enquanto contava que tentou fugir depois de arrombarem o galpão e
desesperados pelos horrores encontrados lá, perderam o controle da situação.
Depois da maioria das criaturas incapacitadas, mesmo considerando que seus
membros se moviam freneticamente e sem rumo ao serem separados do resto do
corpo, pegamos então um galão de gasolina da caminhonete, e um da viatura, e
começamos a espalhar no galpão. O terror lá dentro era inominável, não posso
descrever aqui as abominações criadas pela mente de um cirurgião louco, que lá
se encontravam. Foi então que, enquanto a médica olhava de perto aquelas
aberrações criadas por mãos humanas, algumas dela arrebentaram o cárcere que as
prendiam, e agarraram a Carolline, saindo ainda aos montes de lá.
Eu que estava mais próximo, não
pude fazer nada por ela, a não ser escutar seus agonizantes gritos, enquanto
fugia mancando e os outros atiravam fogo no local, qual se acendeu em chamas,
antes mesmo de sairmos de lá. E eu pude ver seu corpo queimando junto das
criaturas que se amontoavam sobre ela, e ainda me lembro dos seus gritos acima
dos sons e grunhidos agonizantes que aquelas abominações produziam. Meu Deus!
Posso ouvi-los agora! Esse pesadelo nunca termina. O sol ia se pondo no
horizonte, e foi quando escutamos um barulho no porta-malas da viatura, qual o
Montanha foi forçar a abertura, pois estava emperrado.
Ao abrir, vi a cabeça de meu
amigo sendo estourada por um maldito policial que se escondia lá dentro, e
estava enlouquecido, atirando para todos os lados e berrando, tentamos atirar
nele em vão, enquanto se levantava freneticamente numa corrida em direção que o
levava a entrada da pedreira. E na escuridão daquele umbral da pedreira, ao
entrar lá, os berros e tiros se cessaram em um último grito seguido de barulhos
de ossos sendo quebrados e esmagados. O corpo disforme e esmagado do policial
então fora arremessado de lá de dentro a uma longa distância, próxima a nós, e
aquela gigantesca silhueta se apresentou, era o golem que avançava sobre nós.
Nossos tiros eram inúteis, mesmo
da espingarda, uma aproximação poderia ser fatal, foi quando tive a idéia de
pegar uma dinamite, amarrá-la em uma corta a qual esticamos, e começamos a
correr em volta do golem a uma distância segura, aproveitando que não era muito
rápido. Ela então se enrolava nele, e no momento certo acendi e saímos
correndo, enquanto a dinamite amarrada a corda se emaranhavam cada vez mais ao
golem. Ela então explodiu, arrancando uma das pernas daquele ser de pedra,
fazendo-o cair e ficar a nossa altura. Oportunidade que Peter aproveitou para
apagar o nome em sua testa, como havia mencionado. Ao se aproximar do ser de
pedra, pensei que seria seu fim, mas realmente ao apagar aquelas inscrições,
ele simplesmente deixou de se mexer.
Agora precisávamos ir até o fim,
seguir na escuridão daquela caverna. Pegamos as dinamites e o fio e fomos.
Depois de nos aprofundarmos lá, começamos a espalhar as dinamites, mas logo
encontramos os primeiros Mi-Go que conseguimos abater rapidamente. Foi então
que chegamos aquela imensa câmara de pedra, com um estranho e imenso maquinário
que não é do nosso mundo, no centro uma forma cúbica de cor de cristal, com
cerca de uns sete metros chamava a atenção. Porém logo percebi que Peter não
estava mais comigo e Thomas, e dezenas de Mi-Gos nós sobrevoavam naquela
câmara, foi enquanto quando me preparava para deixar uma dinamite naquela
maquina cúbica gigantesca que eles me viram.
Thomas desesperadamente tentou
atirar em vários, enquanto um deles me atingiu com uma espécie de descarga
elétrica a partir de uma pequena maquina que caberia na palma da mão, e o
monstro segurava em uma de suas pinças, que fez meus músculos contraírem, me
derrubando imóvel. E enquanto era arrastado por aqueles monstros, vi um dele
dar um rasante onde agarrou Thomas, e ao chegar ao alto da câmara atira-lo lá
de cima. Já estava próximo a maquina cúbica, e o estranho zunido de seu vibrar,
impediu de escutar os gritos de Thomas, eles me arrastaram então para uma
espécie de sala aparte, que de certo modo até lembrava uma espécie de
laboratório de um hospital.
Lá me colocaram em uma espécie de
maca, onde me amarram. Eu podia ver tudo, mas nem mesmo conseguia gritar, três
daqueles monstros se ocupavam de mim, tinha a esperança de pelo menos o Peter
conseguiu explodir tudo aquilo, pois pelo menos assim, todo aquele sofrimento
valeria a pena. Olhei pro lado e escutei uma maquina emitindo alguns lamentos
em algum idioma humano, era Ephraim o judeu, mas ele era apenas um rosto
fantasmagórico projetado como nas telas do cinema, só que em uma estranha
maquina, que lamentava entre o inglês e o hebraico:
-Estou preso aqui para sempre,
eles me controlam, é tudo tão vazio! E quando aqui desperto, há apenas dor e
pesadelo. Yahveh! Mate-me! Deixe-me morrer! Por favor, por favor! (Então seguia
em outro idioma).
Então reparei em dezenas de
cilindros sobre prateleiras de pedra, e a pele do judeu dependurada como um
terno no cabide, e nesse mesmo instante um dos Mi-Go pegou uma espécie de cerra
giratória e começou a cortar meu crânio. A dor! Esta dor ainda posso sentir! O
sangue escorrendo por minha face, e era incrível sua destreza e minuciosidade
em não ferirem meu cérebro. E em um último olhar para saída daquela sala, vi
Peter passando pela entrada, os Mi-Gos nem se importavam com ele, e ele me
encarou friamente, olhando profundamente em meus olhos, foi então que pude ver que no final
das contas, ele tinha me abandonado e se juntado a eles, substituindo o lugar dos seus antigos ajudantes humanos.
O que aconteceu mais, eu não sei, essas foram as últimas coisas que me lembro. Fora quando me ligaram a esta maquina pela última vez, e só sei que aquele lugar não era a Terra, ou nosso mundo. Mas agora imploro, quando desligarem essa maquina, destruam o cilindro, me deixem morrer, pois quando ligada só vivo um pesadelo e quando fora dela, sou apenas uma consciência vagando pelo vazio.
caramba em... perfeito.. jogamos isso e foi realmente muito bom, tão bom quanto o texto. obrigado mateus pelo belo texto. esse eu vou guardar com muito carinho
ResponderExcluirNossa queria ter jogado essa história! Boa demais!
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